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″Se o mundo não conseguir parar Putin nesta agressão à Ucrânia, o próximo vai ser a Geórgia″ 

Diário de Notícias 10/06/2022 20:15

A cultura russa - os grandes escritores e músicos - influenciou-a?

Os meus pais inscreveram-me num jardim infantil russo para que aprendesse a língua, pois eu vivia num ambiente onde só se falava georgiano. A língua russa foi para mim uma coisa muito natural, mas não era a língua oficial. Os soviéticos fizeram várias tentativas para transformar o russo na língua oficial. No ano em que nasci, 1978, houve uma tentativa de anunciar a língua russa como idioma nacional, mas houve uma enorme manifestação estudantil na época de Eduard Shevardnadze e, perante a perspetiva de um banho de sangue nas ruas de Tbilisi, aceitaram retirar a proposta e deixar o georgiano como língua oficial.

Mas para além da política, nomes russos como Dostoievski ou Tolstoi são importantes para si? Estabelece uma diferença entre o sistema soviético, e mesmo o russo atual, e o património cultural do país?

Eu fui educada na cultura georgiana, com os escritores georgianos - Rustaveli, Vazha-Pshavela, etc. - provavelmente nomes desconhecidos na Europa até hoje, mas eu fui criada segundo os valores georgianos. A hospitalidade georgiana, a cultura georgiana, a relação da Geórgia com as outras nações, o conceito de liberdade, de solidariedade, são tudo ideias com as quais fui educada. Claro que também aprendi e apreciei muito a cultura russa, mas nunca deixou de ser cultura estrangeira, cultura vizinha, não era a minha. Eu falo e percebo russo, mas a língua em si, a dada altura, percebi que era usada como um instrumento de propaganda no meu país. As pessoas consumiam canais russos de televisão e eles começaram imediatamente a repetir a propaganda de Putin, e, a partir de certa altura, decidi não falar russo no meu país e responder, por exemplo, aos turistas russos em inglês, para tornar claro que a Geórgia não era uma parte da União Soviética nem da Rússia, era um país independente.

Como é que explica esta abordagem pró-ocidental de todos os governos georgianos nos anos mais recentes? Esta ideia de vir a ser um dia parte da União Europeia ou da NATO é um sentimento verdadeiramente partilhado pelo povo?

Sim, sim. Não é apenas um desejo de pertencer à Europa na perspetiva de benefícios económicos ou porque a Europa é bonita, é realmente uma coisa ligada à nossa cultura. Se lermos os escritores georgianos do séc. XII, do séc. XVII ou do séc. XIX, vemos que a ideia de sermos europeus é muito georgiana, muito liberal. Somos um país muito pequeno, que lutou todos estes séculos contra vizinhos e conseguiu sobreviver. E, na minha opinião, sobreviveu devido à ideia de humanidade, de paz e por acreditar no ser humano e na bondade humana. Isso está presente até agora na literatura georgiana. Os outros países têm, por exemplo, monumentos de estadistas, de guerreiros, etc., nós temos monumentos de escritores, e são esses os valores em que acreditamos. Ninguém se lembra de quem foi um estadista no séc. XII, por exemplo, o rei David IV que fez da Geórgia um país forte e unido, mas a maioria dos monumentos que temos hoje no país são de escritores, escritores pobres que não tinham mais nada além do poder da palavra.

Para os portugueses que leem o seu romance agora traduzido em português Onde as Peras Caem ou veem o filme My Happy Family, disponível na Netflix, pensa que depois de verem o filme ou lerem este livro ficam com uma ideia muito mais correta da sociedade georgiana, mesmo sendo ficção?

Penso que está muito próximo da realidade. Continua a ser a minha ideia, mas no caso do filme - onde trabalhei muito de perto com a realização - penso que reflete a Geórgia atual, sim.

A ideia com que fiquei do filme, e de certa forma do livro, foi que a Geórgia continua a ser um país pobre, onde as condições de vida das pessoas são inferiores às da Europa Ocidental, mas ao mesmo tempo parece verdadeiramente ocidentalizado. A ambição da Geórgia é fazer parte do ocidente, principalmente porque sente que pertence ao ocidente?

Sim. Devido aos valores que partilhamos com os ocidentais, com a Europa - a liberdade de expressão, em que podemos dizer aquilo que pensamos, é um valor muitíssimo importante para os georgianos. Agora vimos que o governo atual prendeu um opositor e é uma coisa muito, muito penosa para mim, porque esse canal sobreviveu a tempos muito maus e agora existe e é uma voz muito importante na atual Comunicação Social. Cada ser humano, independentemente da sua nacionalidade, opinião política, religião ou orientação sexual, é único e pode ter a sua vida na Geórgia sem sofrer humilhação, opressão. É assim que eu vejo a Geórgia.

© Reinaldo Rodrigues/Global Imagens

Pensa que o futuro do seu país depende desta guerra na Ucrânia? Acha que a Geórgia vai ser afetada pelo resultado da guerra?

Sem dúvida. Porque se o mundo não conseguir parar Putin nesta agressão à Ucrânia, o próximo vai ser a Geórgia. Nós estamos a enfrentar esta guerra diariamente desde 2008. O resto do mundo dizia: tudo bem, Putin pode ficar com a Crimeia, com a Abcásia, com uma parte da Geórgia... mas não há limites. Nós enfrentamos todos os dias, na região ocupada, o Exército russo, que pôs a fronteira em território georgiano também - são 2 Km, 3 Km - até agora, desde 2008 que continua a acontecer. Os cidadãos georgianos foram raptados e eles pedem dinheiro; aconteceu também em territórios ocupados, onde as pessoas foram simplesmente mortas sem razão; ou, às vezes, pessoas georgianas querem visitar os seus parentes, usam um rio para passar ilegalmente e há lutas diárias se o Exército russo descobre que estão a atravessar a fronteira dos territórios ocupados... pedem dinheiro, licenças ou, se não estão bem dispostos, simplesmente matam-nos. Nós estamos em guerra, agora. Toda eu, em corpo e espírito, respondo a esta guerra na Ucrânia, porque apesar de ter a minha família em Berlim e ter podido vir para a Europa Ocidental e viver cá, sinto a guerra pessoalmente e toda a minha existência se sente ameaçada por esta guerra.

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